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- Mais que um caso de violência no futebol
Unknown
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
O caso do garoto Kevin, morto tragicamente após o disparo de
um sinalizador naval, em Oruro, durante a partida entre San José e Corinthians,
vem sendo retratado como mais um caso de violência no futebol. O
garoto estava em um estádio de futebol e o artefato partiu da torcida
adversária. Ponto. Para alguns, essas duas informações já são suficientes para
tratar o caso da mesma forma que tratariam se o jovem fosse morto a pedradas
durante uma briga entre as duas torcidas. Obviamente, são situações bem diferentes.
(Suposto momento do disparo do sinalizador que atingiu Kevin)
No ocorrido no estádio boliviano, não há relato de qualquer
hostilidade entre os torcedores, e o disparo, de acordo com a maioria das
versões, ocorreu da forma acidental. É
logico que isso não absolve os corinthianos que levaram um sinalizador naval a
um estádio de futebol. Foi uma insanidade. Mas, da mesma forma, não exime de
culpa os policiais bolivianos, responsáveis pela revista de torcedores, e que,
segundo testemunha de um repórter do Lance, sequer se deram ao trabalho de
revistar os jornalistas que lá estavam. Bastava apresentar-se como tal pra ter
acesso ao campo de jogo.
É incompreensível o fato de boa parte das discussões ter
girado em torno da violência das torcidas organizadas. Poucos discutiram sobre
a facilidade com que os brasileiros conseguiram entrar em um estádio de futebol
com uma arma letal. O San José e a Conmenbol, responsáveis por organizar o jogo
e o torneio, respectivamente, precisam ser punidos.
(Corinthianos presos na Bolívia. Segundo a polícia local, 2 dos 12 detidos estavam portando sinalizadores. Os demais foram indiciados como cúmplices)
Outra questão que me chamou atenção foi a pena coletiva
imposta aos torcedores. Durante 60 dias os corinthianos estarão impedidos de
acompanhar o clube na copa Libertadores, dentro ou fora de casa. É uma medida
extrema e talvez o caso exija algo desse tipo. Mas, ao contrário do que alguns
fizeram durante a semana, não dá pra afirmar que será essa a solução. No
Brasil, por exemplo, várias punições desse tipo já foram impostas aos clubes e
torcedores e o efeito foi próximo à zero. A essa altura pouco se dá importância
a busca pelo culpado, a punição imposta ao grupo supostamente inibiria outros
torcedores que se aventurassem a levar armas desse tipo aos jogos. Penso,
entretanto, que a identificação e punição do torcedor que disparou o
sinalizador daria o claro recado que em casos como esse o indivíduo não sairia impune.
Enfim, é um fato tão novo e complexo, em que há uma clara
dificuldade para emitir qualquer opinião. Mas não dá pra minimizar. O caso vai
além da violência no futebol. Passa pela desorganização e incompetência de quem
deveria garantir a segurança no evento e também diz muito sobre outras
questões. Li várias opiniões sobre o caso, e finalizo compartilhando o
interessante ponto de vista do jornalista Rica Perrone, fugindo do lugar comum:
“O futebol reflete as
cidades que moramos, as polícias que nos protegem e os perigos que enfrentamos.
Não o contrário. Pacaembu estará vazio daqui pra frente. Como se ali estivesse
o problema, como se lá fosse iniciar uma solução. Vazio. O estádio, nosso poder
de reação, nosso senso de justiça e a nossa idéia de vingança. A morte no
futebol choca mais, mas não tem diferença nenhuma pra morte na rua escura de um
morro que sequer sai no jornal. Acredite: O problema é o mesmo, o criminoso
quase sempre também. Só que num dos casos pedimos cadeia, no outro, suspensão
de mando de campo”.