Ruy domingo, 10 de março de 2013





Minha melhor amiga, Kelly, tem 17 anos de idade, três anos mais nova que eu, no entanto ela costumava ser tratada em casa como se fosse uma criança extremamente inocente, ela mesma me disse isto. Infelizmente, nunca tive autorização para entrar na casa dela, ou melhor, nenhum rapaz jamais pôde fazer isto, pois os pais dela eram muito conservadores (ou seria melhor dizer preconceituosos?) e argumentavam que seria impróprio para uma moça dar um alto grau de intimidade a um homem e blá blá blá. Mas no aniversário de casamento de seus pais ela me ligou e disse:
- Vem aqui em casa agora! Meus pais saíram para jantar, ninguém precisa ficar sabendo que você esteve aqui.
Fui de imediato, mas pouco menos de 5 minutos depois que cheguei, os pais dela voltaram! Não sabíamos por que eles decidiram voltar, mas tive que me esconder no quarto dela, e teria que ficar lá até de manhã para sair sem ser notado. De repente o casal começou uma intensa discussão, e eu percebi que Kelly logo ficou triste ao ouvir os gritos de seu pai:
- Nem me peça dinheiro este mês! Vai ficar trancada em casa, que é o seu lugar! Você deveria estar agradecida por eu lhe dar oportunidade de me servir. Fora daqui você não significa nada! E se reclamar, já sabe o que eu faço com você, não é?
Logo depois que ele disse isto, ouvi duas pessoas chorando: Kelly e sua mãe. Ela me contou que isto era frequente, há anos; Perguntei a ela se nenhuma das duas havia denunciado ele por medo, mas minha amiga apenas disse:
- Denunciar pelo quê? Ele nunca bateu nela.
- Mas se ele humilha sua mãe, fica controlando suas ações e ainda faz ameaças, está cometendo o crime de violência doméstica, mesmo que não seja física! Eu sei que é seu pai e você deve gostar muito dele, mas eu não posso ser omisso num caso destes!
Mesmo sem o consentimento delas, eu o denunciei pelo “disque 100”, aproveitando que nossa legislação permite que tal ato seja praticado por qualquer pessoa; Ele foi enquadrado no inciso II do artigo 7º da Lei 11340/2006 (conhecida como Maria da Penha); As autoridades competentes tomaram as devidas medidas protetivas e a assistência adequada à vítima, e no decorrer dos dias descobri que a situação era muito pior do que aparentava, desencadeando necessariamente um processo conjunto nas áreas penal e cível.




Conto escrito por: Ruy Graça


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